Lucas Prado Kallas, empresário influente e presidente do Grupo Cedro, está no centro de uma investigação conduzida pela Polícia Federal que apura um suposto esquema de extração ilegal de minério de ferro na Serra do Curral, área tombada e símbolo histórico de Belo Horizonte. A operação expõe uma rede de irregularidades envolvendo empresários e servidores públicos em um dos cenários mais emblemáticos de Minas Gerais.
Além de seu protagonismo no setor de mineração, Kallas ocupa uma cadeira no Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável da Presidência da República, o chamado “Conselhão”. A revelação de seu possível envolvimento em atividades ilegais lança uma sombra sobre sua atuação pública e reforça a complexidade das relações entre poder econômico e gestão ambiental no país.
PRAD como fachada
De acordo com as investigações, o esquema operava sob a aparência de legalidade. Kallas e outros dois empresários — cujos nomes ainda não foram oficialmente divulgados — teriam se valido de um Plano de Recuperação Ambiental de Área Degradada (PRAD), documento técnico exigido por órgãos ambientais, para mascarar uma expansão ilegal da mineração na região protegida.
A Polícia Federal aponta que, por mais de uma década, os empresários usaram o PRAD como escudo jurídico para avançar com a exploração mineral, desrespeitando os limites legais e o status de proteção da Serra do Curral. A prática, segundo a PF, causou sérios danos ao ecossistema local e feriu leis de preservação ambiental e do patrimônio histórico.
Apoio de servidores da ANM
O suposto esquema teria contado com a colaboração direta de dois servidores da Agência Nacional de Mineração (ANM): Leandro Cesar Ferreira de Carvalho, então gerente regional em Minas Gerais, e Claudinei Oliveira Cruz, que ocupava o cargo de superintendente substituto de segurança de barragens.
Ambos são suspeitos de facilitar o andamento das atividades ilegais mediante omissões e favorecimentos administrativos. Eles foram exonerados no dia 1º de abril sob suspeita de peculato, corrupção e advocacia administrativa — crimes que envolvem o uso do cargo público para benefício próprio ou de terceiros.
Repercussões políticas e ambientais
O caso gerou forte repercussão nos meios político e ambiental. Especialistas e ativistas denunciam o enfraquecimento dos mecanismos de controle e fiscalização, além da crescente influência de interesses privados em decisões que deveriam priorizar o interesse público e a preservação ambiental.
A Serra do Curral é reconhecida como um dos cartões-postais de Belo Horizonte e possui proteção legal desde 1960. Qualquer atividade minerária na região requer aprovação rigorosa de instâncias ambientais e patrimoniais.
O que dizem os envolvidos
Até o momento, Lucas Prado Kallas e o Grupo Cedro não se pronunciaram publicamente sobre as investigações. A ANM informou, por meio de nota, que está colaborando com as autoridades e que os servidores investigados foram afastados de forma preventiva. A Presidência da República ainda não se manifestou sobre a permanência de Kallas no Conselhão.
A Polícia Federal segue colhendo depoimentos e analisando documentos apreendidos. Caso as suspeitas se confirmem, os envolvidos poderão responder por crimes ambientais, falsidade ideológica, corrupção e formação de quadrilha.
Um caso emblemático
A investigação levanta questionamentos sobre a efetividade da fiscalização ambiental no Brasil e a resistência em conciliar crescimento econômico com responsabilidade ecológica. Para muitos, o caso Kallas é mais um exemplo de como a impunidade e os interesses corporativos continuam a colocar em risco patrimônios naturais e culturais do país.