Por [Jaime Gomes]
Seis meses se passaram desde que o general da reserva Joaquim Silva e Luna assumiu o comando da Prefeitura de Foz do Iguaçu. Com um currículo extenso na gestão pública e militar, ele chegou ao cargo cercado por uma expectativa de que colocaria “ordem na casa” e daria um choque de eficiência em um município cansado de promessas e de escândalos políticos.
De fato, o estilo da nova gestão é visivelmente técnico, metódico e disciplinado. Mas a pergunta que ecoa nas ruas, nos corredores das unidades de saúde, nas escolas, nos bairros periféricos e até mesmo entre servidores públicos é: isso é suficiente
O “Mutirão da Limpeza”, carro-chefe do início da gestão, foi mais do que uma ação de zeladoria — foi uma metáfora da proposta de governo: limpar, organizar e colocar a cidade em marcha. Mas a limpeza, literal e figurativa, precisa avançar além dos canteiros centrais e avenidas principais. Foz do Iguaçu é uma cidade com mais de 250 mil habitantes, e seus problemas estruturais não serão resolvidos com roçada e pintura de meio-fio.
A população esperava, com razão, um pouco mais do que símbolos
É justo reconhecer que Silva e Luna recebeu uma prefeitura marcada por anos de instabilidade política, com um histórico de escândalos e obras paradas. A saúde já vinha sofrendo com filas gigantescas, falta de médicos e estrutura precária. A área social, pressionada pelo aumento da população em situação de rua e o déficit habitacional, carece de planejamento e respostas rápidas.
A máquina pública é grande, cara e — muitas vezes — ineficiente. E é nesse cenário que o general entrou, prometendo disciplina, gestão por resultados e transparência.
Passados seis meses, há avanços a se destacar: a interlocução com o governo estadual e federal trouxe recursos importantes para obras e para a saúde; o município conseguiu reduzir os casos de dengue; foram anunciadas reformas e investimentos no hospital municipal e nos centros cirúrgicos. Até aqui, sinais promissores.
Mas é inegável que a sensação de lentidão predomina. O uso da inteligência artificial na saúde, prometido desde a campanha, sequer foi discutido com profundidade. O número de buracos tampados por dia virou piada nas redes sociais — e expôs uma prefeitura que, ao tentar transformar números básicos em vitrine, acabou revelando que ainda há um abismo entre o planejamento e a execução.
Outro ponto de incômodo é o aumento no número de cargos comissionados e o reajuste milionário no contrato da coleta de lixo, que saltou para R$ 635 milhões. Para quem prometeu “rigor técnico”, essas decisões soaram, no mínimo, contraditórias. A população cobra coerência: se é para moralizar a gestão, que isso se reflita em todos os contratos e nomeações.
Quem mora em Foz quer menos discurso e mais ação. O cidadão quer sair do posto de saúde com consulta marcada, quer que o filho tenha aula com professor na sala, quer ruas sem crateras, transporte de qualidade e políticas sociais que enxerguem as periferias.
A população tem pressa. E o tempo do planejamento já acabou.
Silva e Luna tem a seu favor o fato de não estar envolvido em grupos políticos locais — o que lhe dá certa liberdade para tomar decisões impopulares, se necessárias. Mas também carrega o ônus de não ter uma base sólida que defenda suas ações com convicção. Precisa mostrar serviço. E rápido.
O desafio agora é transformar o discurso técnico em resultados tangíveis. A prefeitura precisa funcionar. As obras precisam sair do papel. A máquina pública precisa atender o cidadão — especialmente o mais pobre, o mais invisível, o mais vulnerável.
Silva e Luna não pode se contentar em apenas ser “melhor do que os anteriores”. Foz do Iguaçu exige mais. E merece mais.
Se o general quiser deixar um legado real, terá que trocar o passo de marcha pela corrida. Porque, enquanto a prefeitura ainda está organizando o campo de batalha, a cidade — esta sim — já está em guerra contra o abandono. E o relógio não para.

